Mesmo sendo um desafio, a conversão da energia com base nos combustíveis fósseis, para uma fonte de energia renovável, é inevitável se quisermos evitar uma catástrofe global nas próximas décadas. Entenda como governos, empresas e as Nações Unidas estão se portando diante dessa urgência. E como obstáculos financeiros estão barrando o avanço desse modelo.
Combustíveis fósseis ainda são uma realidade em todo o mundo, dominam a indústria e o setor de energia, sendo o maior responsável pelas emissões de gases do efeito estufa. Mas aos poucos estamos vendo um movimento pela energia verde e renovável se espalhar em alguns lugares, ainda forma tímida e complementar à energia tradicional.
Mesmo com esse progresso na área, ainda é preciso trabalhar em prol de investimentos e mudar radicalmente a política de empresas e governos em relação à energia sustentável. Novos dados divulgados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostram que o apoio geral de governos aos combustíveis fósseis em 51 países em todo o mundo quase dobrou para 697,2 bilhões de dólares em 2021, no que antes chegava a um montante de 362,4 bilhões de dólares em 2020.
O aumento tem relação direta com a guerra entre Rússia e Ucrânia, que minou a segurança energética, principalmente da Europa. O desafio, no entanto, está relacionado às medidas que precisam surgir destes países para que a neutralidade do carbono continue sendo vista como objetivo principal e ao mesmo tempo possa estar relacionada à segurança energética e ao acesso da infraestrutura em países mais pobres.
Dentro dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, um deles (número 7) se refere ao acesso universal à energia limpa, acessível e confiável. E as Nações Unidas buscam, através de algumas metas, alcançar o mínimo necessário para chegar ao ponto sustentável desse objetivo.
Alguns caminhos para a energia sustentável
Um dos obstáculos que impediam a acessibilidade à energia limpa era o valor dos componentes, pois combustíveis fósseis costumavam ser mais baratos que as energias limpas, mas isso mudou.
A infraestrutura para energia renovável está cada ano mais barata em comparação com combustíveis fósseis. Por exemplo, em 2020 foram divulgados dados do Our World in Data, uma publicação científica online (junto a Universidade de Oxford), que mostram a queda no preço da energia solar, que caiu 89% desde 2010.
Agora podemos ver fábricas de multinacionais utilizando painéis solares e até programas de governo que dão benefícios para pessoas que utilizam esse modelo energético em casa. Isso mostra a resiliência que o setor tem demonstrado diante das dificuldades e contratempos.
Aproveitar essa queda de preço e buscar investir nesses modelos de energia renovável, tem sido o caminho que as Nações Unidas estão trabalhando. Em todo mundo, inclusive no Brasil, há uma tentativa de buscar rapidamente o investimento em energias renováveis, não só através dos governos, mas também na união com parcerias privadas.
Mas as somas financeiras para alcançar esse objetivo são muito grandes, de acordo com a ONU, o valor poderia chegar a 270 bilhões de dólares por ano para ajudar países em desenvolvimento a atingir só 20% de energia renovável até 2051.
É um longo caminho e custa muito para começar a partida, mas são ganhos muito maiores que poderão ser alcançados com investimentos em modelos renováveis. As Nações Unidas entendem que o financiamento do setor privado, apoiado pelos mercados de capitais internacionais, será fundamental para enfrentar este desafio de investimento.
Para este fim, existe o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que conta com um relatório emitido recentemente chamado “Eliminando o Risco de Energia Renovável”, que apresenta uma estrutura para ser a ferramenta financeira e de controle comparativo entre governos e instrumentos públicos. Esse documento apoia os países a criar um ambiente propício para investimentos em energia limpa em grande escala.
Desafios na neutralidade de carbono
Os 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável são um comprometimento dos países membros, e a energia sustentável é ponto crucial para mudanças em diversos outros setores. A alta emissão de carbono estão sendo observadas e países como China, Japão, Coréia do Sul, Reino Unido e governos da União Europeia, que estão empenhados em zerar as emissões.
Esse processo faz parte da Agenda de 2030 que os países membros das Nações Unidas se comprometeram, buscando atingir os ODS até o fim desta década. Mas é claro que só promessas não causam impactos, precisam ser convertidas em ação, o que não estamos vendo, já que os investimentos em combustíveis fósseis aumentaram, como já foi apresentado no início do artigo.
Luz no fim do túnel
Apesar da forte presença das fontes não renováveis de energia, os compromissos não estão sendo colocados à mesa em vão. Em 2022 houve um aumento de 11% no investimento desse modelo sustentável. São dados da Bloomberg, que mostram um investimento de 226 bilhões de dólares em fontes de energia limpa, um recorde para o setor. Foi um salto de 33% em energia solar sendo aplicada no mundo todo, além disso, o aporte em energia limpa cresceu 18%.
Conteúdo sobre energia verde no Path
Em nossa plataforma digital disponibilizamos diversas conversas gravadas durante o Path Amazônia, no ano passado. São vídeos de palestras e debates sobre o tema, podcasts exclusivos com especialistas no assunto e muito conteúdo regenerador para se aprofundar ainda mais nessa pauta.
Uma destas conversas toca diretamente no tema da energia limpa e a participação das empresas dentro deste contexto e da urgência climática. Nesse caso, o jornalista Thiago Oliveira conversa com o Diretor Geral de Operações e Inovação da Volvo Car Brasil, João Oliveira. O executivo apresenta os planos da empresa no desenvolvimento de um futuro sustentável através da energia limpa.
Esse é apenas um exemplo de como ações sustentáveis dentro das indústrias podem ser parte de todo esse esforço e apela às mudanças climáticas. A crescente demanda por energia limpa e renovável encorajou diversas empresas que estão diretamente ligadas às emissões de CO2 durante décadas.
As empresas que estão olhando pela ótica da sustentabilidade estão estabelecendo metas ambientais, sociais e de governança baseadas na sigla em inglês ESG (Environmental, Social and Governance). Uma integração oportuna das práticas ESG no investimento e desenvolvimento de projetos renováveis está fazendo a diferença entre alcançar o sucesso e enfrentar obstáculos no futuro.
Práticas que estão ocorrendo agora
Cidades europeias como a de Utrecht, na Holanda, estão na linha de frente das mudanças, liderando um projeto financiado pela UE em que diversas possibilidades de energia limpa estão sendo testadas neste momento.
Existe, por exemplo, um apoio ao uso de carros elétricos na cidade, outro tema que abordamos muito no Path e que pode ser compreendido melhor nessa matéria sobre a conversa que tivemos com Cassio Cortes. No bate-papo, o jornalista automotivo explica como os carros eletrificados irão ocupar o lugar dos veículos a combustão na próxima década.
No Estado da Califórnia, nos Estados Unidos, estão sendo estipuladas metas mais rígidas para criar políticas que vão de encontro com os modelos de energia renováveis. Um exemplo, é a proibição de novos poços de petróleo e gás perto de casas e escolas, para poder estabelecer diretrizes renováveis em relação à captura de carbono e armazenamento.
Um plano ambicioso do Banco Africano de Desenvolvimento, junto à Agência Internacional de Energia Renovável quer criar uma mudança sistemática do continente africano, muito conhecido pelo uso dos combustíveis fósseis, convertendo a energia dos países para um um sistema de energia baseado no renovável. Esse processo, segundo estudos das instituições, poderia levar a um PIB 6,4% maior para a região, e aumento no Índice de Desenvolvimento Humano em mais de 25%, até 2050.
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