Em pleno mês de conscientização da saúde mental, um fato novo trouxe à tona a relação desse tema com a equidade de gênero, a renúncia recente da premiê da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, abriu debates acerca de tópicos como Burnout, liderança e a desigualdade nas mais diversas instâncias. Durante a leitura aproveite para ver alguns dos conteúdos do Path que abordam o tema.
Ao anunciar sua saída, Jacinda Ardern disse que não tinha mais a energia necessária para exercer o cargo. Desde que foi eleita, aos 37 anos, em 2017, ela se tornou uma fonte de inspiração para mulheres e líderes do mundo inteiro.
Tendo acontecido em janeiro, esse evento é ainda mais importante para o debate sobre saúde mental, já que estamos vivendo a campanha do janeiro branco. Um mês de conscientização sobre a importância da saúde mental. Um momento para refletirmos sobre como nossa saúde mental influencia positivamente no nosso bem-estar, e como podemos olhar para nós mesmos e nos ajudar nesse sentido.
A decisão de Jacinda levantou um debate importante nas redes sociais sobre burnout, empoderamento e liderança. A primeira-ministra se permitiu renunciar, o que também demonstrou seu olhar de liderança sobre a situação, já que preferiu agir sem culpa escolhendo o melhor caminho para sua vida, família e para o governo que comandava.
“Estou saindo porque com grandes poderes vêm grandes responsabilidades. Inclusive a responsabilidade de saber quando você é a pessoa certa para liderar e quando não é. Eu sei o que esse trabalho exige. E sei que não tenho mais o combustível necessário para fazê-lo da melhor forma. É simples assim.", discursou Jacinda durante o anúncio de sua decisão.
O debate sobre o burnout, empoderamento e liderança das mulheres em diversas esferas passou por grandes mudanças nos últimos anos, em um processo de disputa com o machismo impregnado nas diversas instâncias e setores.No entanto, ainda há desafios a serem vencidos para melhorar a equidade de gênero, bem como condições justas no mercado laboral globalmente.
A relação da saúde mental com a equidade de gênero no mercado de trabalho e em posições de liderança
Muitas pessoas acreditam que a equidade de gênero é uma questão que se relaciona apenas com a igualdade salarial, mas na realidade ela envolve muito mais do que isso. Com a evolução da sociedade, a equidade de gênero é reconhecida como um elemento importante para o desenvolvimento social e econômico.
O mercado de trabalho tem sido um dos principais campos onde essas mudanças podem ser vistas. No entanto, ainda existem muitos desafios para a igualdade de gênero no ambiente de trabalho, especialmente quando se trata de posições de liderança. Uma das questões que precisa ser abordada é a relação entre saúde mental e equidade de gênero dentro desse ambiente.
A saúde mental tem sido vista como uma questão fundamental para o bem-estar dos indivíduos em toda parte do mundo. Os principais fatores associados à saúde mental são os ambientes profissionais que exigem grande dedicação, juntamente com os padrões sociais impostos pela sociedade moderna.
Ao procurar promover um ambiente corporativo mais inclusivo, é importante abordar questões relacionadas à saúde mental, especialmente aquelas ligadas à igualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho e em posições de liderança.
Por exemplo, algumas mulheres podem sentir o peso do estigma associado às suas carreiras profissionais devido à falta de representatividade feminina nas posições mais altas da hierarquia corporativa. Em vez disso, as empresas precisam criar um ambiente acolhedor para todos os funcionários e preservar o direito humano básico à dignidade e felicidade no local de trabalho.
A equidade de gênero é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável definidos pela Organização das Nações Unidas para 2030. Para alcançar essa meta, no entanto, é preciso que projetos de conscientização e ações afirmativas sejam promovidas na sociedade.
Segundo a ONU, a equidade de gênero é essencial para o desenvolvimento social e econômico. Por isso, é importante que governos, organizações, empresas e indivíduos trabalhem juntos para erradicar as desigualdades de gênero.
Para que as pessoas possam alcançar a equidade de gênero, é necessário que haja conscientização sobre temas relacionados à igualdade de direitos entre homens e mulheres. O primeiro passo é o reconhecimento das diferenças culturais e sociais envolvidas em relação às desigualdades de gênero.
O burnout como gatilho para o debate
A decisão tomada por Jacinda colocou também o burnout de volta à mesa de conversas sobre saúde mental, não que esse tema tenha sido esquecido, mas sua importância precisa ser lembrada constantemente, já que é um dos problemas mais comuns ligados a fatores de desigualdade de gênero.
O burnout é uma síndrome caracterizada por esgotamento profissional desencadeado por uma combinação de estresse, pressão excessiva e falta de apoio. É um problema cada vez mais comum entre líderes de diferentes esferas, que podem enfrentar pressão para atingir metas impossíveis, manter relacionamentos difíceis ou lidar com situações de crise.
Ele pode ser devastador para as lideranças, pois elas são responsáveis por tomar decisões importantes e liderar os outros. O burnout pode se manifestar de várias maneiras, desde fadiga crônica, irritabilidade, insônia até o desenvolvimento de doenças mentais como depressão e ansiedade.
O gatilho principal para uma crise de burnout pode vir através da pressão diária sofrida por uma mulher, principalmente se ela estiver em um cargo de liderança. Uma pesquisa realizada pela KPMG indicou que as mulheres brasileiras ainda enfrentam diversos estereótipos e discriminação no ambiente de trabalho. O estudo mostrou que 86% das executivas entrevistadas já foram vítimas de alguma forma de discriminação de gênero durante a carreira. Esta situação tem sido um desafio para muitas mulheres em relação à sua produtividade no trabalho.
Efeitos profundos da desigualdade de gênero
A desigualdade de gênero é uma realidade para as mulheres em todo o mundo. No entanto, suas consequências na saúde mental das mulheres são muitas vezes ignoradas ou negligenciadas. A desigualdade de gênero se manifesta de muitas maneiras diferentes.
Uma das formas mais comuns está no assédio, que pode levar à ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático. Também pode afetar a confiança e autoestima das mulheres, levando-as a evitar posições e cargos dentro de uma empresa, ou até mesmo evitar locais como universidades e etc.
Embora a desigualdade de gênero afete todas as mulheres, ela tem um impacto particularmente profundo nas mulheres negras. Elas enfrentam mais discriminação em seus empregos, escolas e vidas cotidianas do que mulheres brancas, essa discriminação pode levar a problemas como depressão, transtornos alimentares e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Além disso, as mulheres negras também são mais propensas a enfrentar violência doméstica do que outros grupos.
Em uma pesquisa feita pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), analisando um período de 10 anos entre 1999 e 2009, mostrou que o desemprego é também uma realidade permeada de desigualdades de gênero e raça. Assim, a menor taxa de desemprego corresponde à dos homens brancos (5%), ao passo que a maior remete às mulheres negras (12%). No intervalo entre os extremos, encontram-se as mulheres brancas (9%) e os homens negros (7%).
E nos anos seguintes esse processo não se encerrou, de acordo com o IBGE, mulheres estudam mais que homens, mas a desigualdade entre mulheres brancas e negras é grande. Para as negras, 30,7% das jovens entre 15 e 17 anos estão com atraso escolar no ensino médio, em comparação com 19,9% das brancas na mesma faixa etária. Esses dados mostram como o poço da desigualdade é ainda mais fundo, afetando ainda no ensino médio essas mulheres.
O Poder da Resiliência
Embora a desigualdade de gênero possa afetar profundamente a saúde mental das mulheres, existem formas pelas quais elas podem se tornar resilientes em meio às adversidades. Algumas estratégias para lidar com os efeitos da desigualdade de gênero incluem procurar apoio social e se conectar com outras mulheres que entendem sua experiência. Também é importante encontrar maneiras positivas de lidar com o estresse, através de atividades e ajuda profissional que, quando necessário, é importante para o bem-estar mental.
Por fim, é importante reconhecer que todos nós podemos nos unir para combater os efeitos da desigualdade de gênero sobre a saúde mental das mulheres. Isso inclui apoiar políticas que promovam igualdade entre os sexos e reconhecendo os privilégios masculinos que contribuem para essa desigualdade. Também é importante reconhecer as barreiras enfrentadas pelas mulheres marginalizadas e oferecer apoio - financeiro ou emocional - para aqueles que precisam disso. Ao fazer isso, podemos começar a reduzir os impactos da desigualdade de gênero na saúde mental dessas mulheres.
Iniciativas Para Promover Equidade entre Homens e Mulheres no Trabalho
Embora o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 5 seja um esforço global para promover a equidade de gênero, é importante destacar que algumas iniciativas locais também podem contribuir para essa meta. Por exemplo, programas educacionais, comunicação intercultural, engajamento social e protestos são apenas algumas das maneiras pelas quais as pessoas podem contribuir para a luta pela igualdade entre homens e mulheres.
Segundo a ONU, atingir a equidade de gênero até 2030 é um desafio significativo. No entanto, existem inúmeras maneiras pelas quais governos, organizações, empresas e cidadãos podem trabalhar juntos para atingir esse objetivo. A melhor maneira de começar é educando-se sobre as desigualdades de gênero e promovendo a conscientização sobre os direitos humanos e os direitos das mulheres. Além disso, leis que apoiem a igualdade entre homens e mulheres também são essenciais para o alcance desse objetivo.
De acordo com o relatório da ONU (2015), "alcançar a equidade de gênero pode ter um impacto profundo no bem-estar individual e na prosperidade social". Por isso, é importante que todos trabalhem juntos para erradicar as desigualdades entre homens e mulheres - tanto nos níveis local quanto global - para atingir esse objetivo antes do ano 2030.
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