Contrapondo uma visão desenvolvimentista e de exploração da Amazônia, se reeducar e conectar-se com a natureza pode ser o caminho para a regeneração desse bioma tão importante.
A Amazônia sempre foi objeto de observação para pensadores, cientistas, artistas, historiadores, entre outros, mas entre os séculos de contato há momentos que até hoje refletem a desconexão da humanidade com a floresta. São dois lados a serem considerados, um deles parte da conexão natural que os povos originários tem com a floresta, que a partir dos anos 60 foi minorizada por uma visão de governos brasileiros que pretendiam “desenvolver” a região amazônica.
Esse discurso desenvolvimentista da Amazônia foi influenciado por uma visão dos exploradores europeus, cientistas e naturalistas que chegaram na região a partir do século XVI. Em suas observações e estudos, a Amazônia era tratada como uma região inóspita, exótica, perigosa ou mágica, essas interpretações sobre a Amazônia foram transportadas de século a século, até hoje.
Essa linha histórica foi traçada através da pesquisa, “Reconexão Amazônia: uma jornada de despertar sentimentos profundos pela floresta”, de Karina Miotto, que é mestre em Ciência Holística, jornalista e ativista ambiental. Miotto também é facilitadora de vivências em ecologia profunda, através do Movimento Reconexão Amazônia, que cria experiências de conexão afetiva com a floresta.
“Uma parte desses viajantes diziam que a Amazônia era uma lenda viva, infinita, um paraíso, mágica, o local onde vivem as amazonas, já a outra visão era de que a Amazônia era um inferno, caso você fique perdido morreria, perigosa, inóspita, um lugar difícil, os índios atrasados e selvagens...", explica Miotto, durante o evento PlusPlus! organizado pelo Path. De acordo com a ativista, essas visões dos europeus foram parar nos livros de história, geografia, cinema nacional, imprensa e reforçadas pela ditadura militar.
A ativista explica também sobre as consequências dessa cultura que nega a beleza da Amazônia e o conhecimento dos povos originários. Ela destaca que a persistência dos estereótipos em relação à floresta só irão contribuir para o seu desaparecimento e que a desconexão vem da deseducação que recebemos através dos tempos. “A gente precisa falar da Amazônia das qualidades, que é sagrada, que é linda, que tem inteligência e pode se auto regular, isso não é papo de hippie é sobre ciência.”, diz Miotto.
De acordo com o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) a região registrou 8.381 km² de desmatamento, de agosto de 2020 até junho de 2021, a maior devastação para o período em dez anos. Esses dados mostram que esse desmatamento é 51% maior que o registrado no período anterior, entre agosto de 2019 a junho de 2020.
Karina Miotto observa a questão da Amazônia a partir dos estudos de James Lovelock, realizados na década de 1970 para a NASA, que em parceria com a filósofa, Dian Hitcock, elaborou experimentos para detecção de vida em outros planetas a partir de sua atmosfera.
Porém o que encontrou nesse processo foram evidências de que a temperatura do planeta Terra não sofreu alterações significativas nos últimos 3,3 bilhões de anos, a partir desse conhecimento, em parceria com a microbiologista Lynn Margulis, Lovelock propôs a existência de um sistema gigantesco que compreenderia a biosfera, hidrosfera, atmosfera, os solos e parte da crosta terrestre, em um conjunto único e vivo que mantém as propriedades do ambiente, assim como composição química e a temperatura, todos adequados para a vida.
Lovelock então propôs que a Terra fosse capaz de se auto regular como um organismo vivo, apresentando sua teoria à comunidade científica através da carta, “Gaia as Seen Through the Atmosphere” (1972). No artigo, Lovelock e Margulis propuseram a existência de uma rede complexa de retroalimentação da Terra que inclui intimamente os seres vivos, além do ambiente físico e químico que nos rodeia.
Com base nessa teoria, Karina Miotto propõe uma reconexão com a floresta, para nos relacionarmos com a natureza como um lugar de retorno às nossas origens. “Como organismo vivo, o que a Amazônia estaria sentindo, enquanto ela está sendo desmatada, destruída, enquanto os rios dela estão sendo represados, o que ela sente?”, questiona Miotto.
Outro questionamento é em relação às questões éticas da ciência e da humanidade como um todo. Caso passássemos a considerar o planeta como organismo vivo, ainda veríamos a natureza como um recurso natural? Miotto destaca que nossa relação com a Amazônia, por exemplo, sempre foi superficial desde a escola quando aprendemos mais sobre os números de extensão territorial, sua geografia e etc. “Eu concluí durante a produção da minha dissertação que nós permanecemos na superfície. A floresta tropical é muito mais do que meros números.”, complementa Miotto.
Como facilitadora dessa conexão com a natureza, Karina Miotto propõe aos participantes uma experiência sensorial, até mesmo se for feita no meio da cidade utilizando sons para estimular a audição e plantas nativas para estimular o olfato. Segundo ela, essa conexão com os elementos da natureza pode fazer com que as pessoas se tornem multiplicadoras de sua beleza e importância, engajando-se e protegendo o bioma.
Path Amazônia
Esse ano o Festival Path traz a Amazônia como tema central, dia 30 e 31 de outubro serão mais de 70 horas de conteúdo, através de uma plataforma interativa. Estamos construindo uma experiência digital e interativa com documentários, palestras, estudos, podcasts, e mais.
Todo conteúdo disponível na plataforma tem como objetivo inspirar transformação individual e coletiva para que a gente encontre soluções para o mundo. E você já pode se cadastrar e receber informações diretamente de nossa curadoria acessando o ondemand.festivalpath.com.br
Nos vemos lá!
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