Em uma conversa transcendente, os convidados do Path Amazônia, AnaMi, Luciana Branco e Tom Almeida, batem um papo sobre como podemos encarar o luto e regenerar nossa humanidade.
Falar sobre a morte pode parecer um tabu para algumas pessoas, mas o Path Amazônia sempre foi a ponte para trazer à tona conversas que transformem a forma como nós, enquanto sociedade, enxergamos alguns temas. Pela segunda vez no palco do Path, os amigos AnaMi, Luciana Branco e Tom Almeida se reuniram para falar sobre o sentido da regeneração na vida, na morte e depois dela.
E os participantes desse papo transcendente agregam muito conhecimento para compartilhar. A escritora AnaMi, por exemplo, é paciente de câncer contínuo desde 2011 e autora dos livros “Enquanto eu respirar” e “Vida Inteira”, além de ser a criadora do canal @Paliativas, que desmistifica o conceito de “cuidados paliativos”, já Luciana Branco é fundadora da “[EM BRANCO]”, um Hub dedicado à eventos culturais relevantes e também autora do podcast “O que sei de mim”, que fala sobre autoconhecimento. Junto a elas, Tom Almeida, fundador do Movimento InFinito, que promove conversas sinceras sobre a vida e a morte.
Desde o início da pandemia as pessoas se depararam mais frequentemente com a finitude da vida, muitas delas encontram dificuldades para encarar o luto diante da perda de familiares, amigos ou conhecidos em decorrência da Covid-19. “Isso tudo é muito violento, muito sofrido o que as pessoas estão vivendo, todos nós estamos sofrendo algum tipo de luto, então a solução é mergulhar nisso tudo e se regenerar para a gente ir se transformando.”, explica Tom Almeida, que através do Movimento inFinito propõe disponibilizar um canal aberto para assuntos difíceis como a morte.
O medo de sair de casa e o contato com o vírus também afetou a saúde física e mental das pessoas, no caso de AnaMi, esse contato foi inevitável e por conta das saídas para o hospital, em uma delas a escritora foi acometida pela Covid-19 enquanto recebia, ao mesmo tempo, a notícia da progressão de seu câncer.
“Eu estava bem e estava trancada dentro de casa, porque não podia sair, tinha mais risco de Covid do que de câncer naquele momento, quando falamos de regenerar eu tive que regenerar minha relação comigo, com minha doença, com câncer, com o medo…”, ao lembrar do momento em que testou positivo para Covid-19, AnaMi recorda do sentimento que teve, “...foi como morrer e renascer ao mesmo tempo.”, completou.
Essa relação simultânea entre a vida e a morte pode ser uma oportunidade para se regenerar, algumas pessoas tiveram a oportunidade de direcionar sua atenção para si mesmas, ampliando o autoconhecimento. “Essa história de regeneração nesse tempo foi muito interessante porque enquanto acontecia a tragédia humana, eu aproveitei para me afastar das distrações.”, conta Luciana Branco, que perdeu o avô durante a pandemia, do qual era muito próxima.
“Eu perdi meu avô de Covid-19, ele era meu melhor amigo, mas quando ele morre quem morreu junto foi a menina, a netinha, morreu a menina que eu carregava e que ia encontrar nesse avô um colo.”, lembrou a jornalista.
Regenerar o Luto
O processo de luto é natural e pode ser afetivo, ou seja, pode ser o vínculo que as pessoas têm entre elas ou sua relação com o rompimento de outros elementos como um sonho, um relacionamento, uma possibilidade, um emprego e etc. Para Tom Almeida esse rompimento pode ser muito violento, como a imagem de um acidente.
“Todo dia de manhã você acha que era e não é mais, precisamos de muito tempo para ir se organizando e entender o que é o novo emocionalmente, então o luto é esse processo de como eu vou me reorganizando em todos esses aspectos.” explica o também escritor e um dos autores no livro, “Luto por perdas não legitimadas na atualidade”.
Essa interrupção das idealizações das pessoas é um dos temas que motivaram AnaMi a escrever seus livros. Aos 28 anos ela recebeu o diagnóstico de câncer e naquele momento vivia sua vida planejando casamento, carreira, viagens e objetivos para daqui alguns anos. Segundo AnaMi, ela vivia um casamento abusivo e não parava para refletir sobre a vida que vivia, até o momento do diagnóstico. “De repente veio o diagnóstico, que me fez olhar e pensar qual a vida que eu estava tendo, talvez o meu luto tenha sido isso, de olhar e ser sincero.”, conta AnaMi.
A escritora ainda destaca que essa projeção do futuro afeta, não só as pessoas com diagnóstico de doenças terminais, mas também pessoas saudáveis que sofreram com perdas na pandemia. No Instagram, AnaMi recebeu muitas dúvidas de seguidores que ficaram inseguros em relação ao futuro, por conta das perdas que ocorreram na pandemia. Para ela, esse processo mostra uma sociedade que enfrenta uma depressão em que ninguém reconhece a si mesmo.
Para Tom Almeida, "o que cabe a nós que estamos vivendo tantos lutos é como que a gente pode ser suporte para que essa regeneração aconteça, cuidando do fora, cuidando do dentro, se apoiando em grupos de apoio. O maior sofrimento de um enlutado é que ele precisa que essa dor seja reconhecida e o que a gente faz como sociedade é dizer que tudo vai passar”, explica Almeida.
Em relação a essa questão de como se comportar diante do luto, nossos três convidados conversam sobre como é preciso olhar no olho da pessoa e mostrar que entendemos o sofrimento dela, mas não sabemos como essa pessoa está se sentindo. De acordo com Tom Almeida, “é entender como que a gente, juntos, pode regenerar respeitando o tempo, respeitando a dimensão da dor, nunca o que eu imagino que é sofrer pela dor de alguém, vai ser o que você vai sentir.”
De acordo com Luciana Branco, para que as pessoas possam se regenerar em relação ao próprio luto, precisam ser sinceras com si mesmas. “Regenerar a possibilidade da gente ser sincero com nós mesmos, é essa essência original, que não se transformou em algo para receber um amor, que não se fingiu de algo que não é, para ter uma atenção”, completa
Quando descobriu que seu câncer não tinha cura, AnaMi começou a analisar esse conceito.De acordo com ela, mesmo uma pessoa saudável não tem garantia de longevidade portanto, só esse fato já a colocava na mesma página que todos ao seu redor, nesse processo ela entendeu que o autoconhecimento é importante e passa pela honestidade que as pessoas precisam ter com si próprios. “É matar as mentiras antes que a morte chegue”, completa AnaMi.
Essa conversa transformadora é uma, entre tantas outras, que estará na programação do Festival Path Amazônia. Nos dias 30 e 31 de outubro serão mais de 70 horas de conteúdo exclusivos e relevantes que abordam ideias, iniciativas, soluções atuais e inovadoras de sustentabilidade e regeneração do planeta.
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