Por Diogo Rodriguez
Maitê Schneider, atriz, ativista e criadora do Transempregos
A plataforma Transempregos conecta profissionais trans e travestis a empresas que querem investir em diversidade
O Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo. A expectativa de vida no país é de 75 anos. Mas, quando falamos dessas pessoas, o número cai para 35 anos. Apesar de hospedar uma das maiores paradas gays do planeta, ainda não somos capazes de oferecer uma cidadania plena a todas as pessoas, independente de credo, cor da pele ou religião.
Quando até mesmo o mais básico dos direitos é negado a travestis e transexuais, é de se esperar que a vida dessas pessoas seja difícil. Conseguir emprego, por exemplo, pode ser quase impossível. Diante de um cenário discriminatório e perigoso, o importante é sobreviver. Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 90% das travestis e transexuais se prostituem no Brasil.
Para enfrentar essa questão, um grupo de ativistas pelos direitos das pessoas trans e travestis resolveu tomar uma iniciativa. Criaram, em 2014, uma ferramenta para conectar as centenas de profissionais trans e travestis a empresas interessadas em contratá-las. O portal Transempregos oferece vagas em diversas áreas, principalmente em companhias multinacionais. Maitê Schneider, ativista, atriz, transexual e uma das criadoras do site, explica a origem da iniciativa: “Márcia Rocha, que é empresária [e fundadora do Transempregos], sentiu a necessidade de ter uma central de currículos de travestis, transexuais e pessoas transgênero. Aí surgiu o Transempregos”.
No começo, a principal dificuldade foi receber os currículos das candidatas e candidatos. Divulguei no meu site [www.casadamaite.com], a Laerte [Coutinho, cartunista e fundadora] também, a Márcia foi divulgando nas palestras que ela dava”, diz Maitê. “Do outro lado”, explica, “a Márcia Rocha foi entrando em contato com as empresas, com as multinacionais, tentando fazer essa conexão”.
Depois de pouco mais de três anos, Maitê avalia como positiva a iniciativa.
Além de conseguir os empregos, o Transempregos trabalha para capacitar as empresas a receber essas pessoas. Isso é feito, segundo Maitê, “através de palestras que a gente dá, de sensibilização, tanto com a capacitação de recursos humanos das empresas e com o feedback que recebemos”. Trata-se de um esforço essencial. Mesmo entre empresas que têm metas de inclusão de pessoas LGBT, o ambiente ainda deixa a desejar. Uma pesquisa feita em maio de 2017 com 30 grandes empresas mostrou que 43% não investe no desenvolvimento desses profissionais. A maioria (metade) não promove respeito aos direitos LGBT quando presta serviços, cria produtos ou atende os clientes.
"Uma pessoa com emprego é muito mais ciente da cidadania"
Maitê Schneider
Por isso, a intenção é expandir o Transempregos e investir ainda mais em treinamento e conscientização. “Agora estamos reformando o site para fazer uma plataforma que atenda melhor às necessidades tanto das empresas quanto do pessoal que envia currículos”, afirma Maitê. O crescimento será também para fora do Brasil: “A Márcia Rocha fala várias línguas e está conseguindo fazer outras pontes, inclusive internacionais. A ideia é que a gente cresça, inclusive para fora.”
Seja onde for, seja quem for, sentir-se produtivo é essencial para que alguém desenvolva o sentimento de pertencimento. Maitê Schneider resume: “Uma pessoa com emprego é muito mais ciente da cidadania e consegue estar muito melhor com relação a sua identidade, com sua orientação”. Empregar pessoas trans e travestis é mais do que apostar na inclusão. É dar ferramentas para o fortalecimento da sociedade toda.
Visite: www.transempregos.com.br
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